Artigo
Editado por Daisy Cristina Borges da Hora, PhD.
(Revista
Científica – UniAraras)
Postado
pelo Nutricionista Reinaldo José Ferreira CRN3 – 6141
www.suplementacaoesaude.blogspot.com.br
A
utilização de plantas com objetivos terapêuticos é descrita desde
2.800 antes de Cristo, observando-se nos últimos anos um aumento no
seu consumo em substituição a determinados medicamentos alopáticos.
Este crescente uso deve-se principalmente aos benefícios provocados
no organismo, associados à ausência de efeitos colaterais, além da
facilidade do preparo associada ao baixo custo. O Allium
sativum (alho)
é utilizado na cultura popular com o objetivo de prevenir e tratar
afecções diversas. Estudos científicos comprovaram que o extrato
do alho é capaz de estimular o sistema imunológico, gerando uma
ação pró-inflamatória a partir da proliferação e amplificação
da resposta mediada por células T e NK (Natural Killer), além da
maior produção de citocinas pró-inflamatórias sem que se observe
efeito hepatotóxico. A comprovação científica dos benefícios
associados à baixa toxicidade do alho e ao estímulo do sistema
imune permite que este vegetal seja administrado no tratamento e
prevenção de vários
processos inflamatórios.
Introdução:
Os
compostos naturais têm sido utilizados por um crescente número de
indivíduos de forma empírica com o objetivo de prevenir e de tratar
afecções diversas. Além da comprovação da ação terapêutica de
várias plantas usadas popularmente, a fitoterapia representa parcela
importante da cultura de um povo, sendo também parte de um saber
empregado e difundido ao longo de várias gerações (TOMAZZONI,
NEGRELLE e CENTA, 2006).
O
aumento no consumo de plantas medicinais deve-se aos avanços na área
científica, à fácil acessibilidade terapêutica, ao baixo custo e,
principalmente, a um maior questionamento por parte dos pesquisadores
e da população a respeito dos perigos causados pelo uso abusivo de
produtos farmacêuticos sintéticos (ARNOUS, SANTOS e BEINNER, 2005;
SOUZA e MACIEL, 2010).
Há
gerações, o alho é utilizado na culinária e no tratamento de
vários males, tendo, nos últimos anos, sido alvo de análises
sistemáticas que objetivam a comprovação de características
nutricionais e terapêuticas.
Dentre as espécies analisadas, o Allium sativum foi apontado como possível substituto de determinados medicamentos sintéticos, sendo o seu uso recomendado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS) por mostrar-se significativamente mais eficaz quando comparado a outros gêneros estudados (MOTA et al., 2005; APOLINÁRIO et al., 2008).
Segundo
Rivlin (2001), o alho é utilizado de forma medicinal, como tempero e
como alimento há mais de cinco mil anos, sendo um dos primeiros
fitoterápicos já registrados. É considerado eficaz no tratamento
de doenças e na manutenção da saúde. Estudos científicos
comprovaram que o alho é um potente estimulante do sistema
imunológico, podendo ser consumido por indivíduos desde a infância
até a senescência, sem contraindicações.
Este
trabalho tem como objetivo descrever, por meio de revisão
bibliográfica, os benefícios do Allium
sativum,
salientando a ação imunoestimuladora quando ele é usado como
fitoterápico. A revisão da literatura foi realizada com base em
artigos científicos encontrados em bancos de dados, como PubMed,
Scielo, Google Acadêmico e Medline, no período de 1997 a 2015.
Descrição:
O
uso de remédios à base de ervas remonta ao início da civilização,
quando os curandeiros tribais utilizavam um repertório de
substâncias naturais com o objetivo de restaurar a saúde física,
mental e espiritual dos indivíduos. Por volta de 2800 a 2700 a.C.,
foram realizados os primeiros registros do uso dessas substâncias
com finalidades terapêuticas, quando o imperador chinês Sheng-Nung
catalogou 365 ervas medicinais e venenos utilizados
no taoísmo.
Posteriormente, uma lista significativa de produtos naturais foi
elaborada pelos adeptos da medicina ayurvédica (FRANÇA et al.,
2008).
No
século XIX, junto à alquimia, teve início o processo de
purificação de extratos vegetais, metodologia que possibilitou a
ascensão da alopatia, a qual consiste na utilização de
medicamentos capazes de gerar um efeito no organismo de reação
contrária aos sintomas apresentados a fim de diminuí-los ou de
neutralizá-los, porém as doses das substâncias utilizadas
encontram-se no limite da toxicidade, quase sempre produzindo efeitos
colaterais (FRANÇA et al., 2008).
Em
contrapartida, as plantas medicinais são aquelas capazes de aliviar
ou de curar enfermidades, sendo utilizadas tradicionalmente por uma
população ou comunidade de forma empírica. Elas possuem um ou mais
princípios ativos, os quais apresentam propriedades terapêuticas
que, quando industrializadas, resultam em compostos denominados
fitoterápicos (ANVISA, 2010).
Aproximadamente
80% da população mundial aplica a medicina tradicional, ou
fitoterapia, como forma de tratamento fundamentada predominantemente
em plantas, o que gerou um mercado de 50 bilhões de dólares no ano
de 2008 (MADRIGAL-SANTILLÁN et al., 2014).
A
ANVISA divulgou em 2010 uma tabela com mais de 60 fitoterápicos e o
modo de preparo de cada um desses compostos, destacando que sua ação
terapêutica é totalmente influenciada pela forma como eles são
manipulados (ANVISA, 2010).
Popularmente,
o extrato aquoso de alho é utilizado com o objetivo de prevenir e de
tratar afecções diversas, como artrite, dor de dente, tosse
crônica, constipação, infestação parasitária, picadas de cobras
e insetos, doenças ginecológicas e outras infecções de modo geral
(BAYAN, KOULIVAND e GORJI, 2014).
Atualmente, foram identificados cerca de 30 componentes do alho que apresentam efeito terapêutico. De acordo com Majewski (2014), seu efeito curativo deve-se à composição de substâncias biológicas ativas, que incluem enzimas, como a alinase; compostos sulfurados, destacando-se a alina; e componentes produzidos enzimaticamente, como a alicina (KATZUNG, 2003).
O
bulbo do alho (A.
sativum)
deve ser macerado na concentração de 0,5 g em 30 ml de água, no
entanto o preparo artesanal é
realizado de formas variadas, conforme descrito por Algranti (2012),
como em tintura; amassado com azeite de oliva; em infusão com leite
ou vinagre; cozido; ou ainda diluído em água após maceração
(CURY, 2010).
Segundo
Quintaes (2001), o extrato de alho pode ser ministrado a pacientes
com debilidade significativa do sistema imunológico, pois as
propriedades desse vegetal são capazes de estimular tanto a
imunidade humoral quanto a celular, o que justifica a inclusão do
alho na dietoterapia desses indivíduos.
Mirabeau
e Samson (2012) relatam que o extrato de alho surte maior efeito
sobre as populações de leucócitos totais, destacando-se os
linfócitos TCD4+, em comparação ao extrato de cebola e aos
extratos combinados desses dois vegetais na mesma concentração.
Anteriormente,
Tang et al. (1997) verificaram que o extrato de alho foi capaz de
elevar acentuadamente a atividade de linfócitos T e a concentração
da interleucina-2. Fallah-Rostami et al. (2013) observaram que a
ingestão desse fitoterápico estimula a diferenciação de células
Th0 em Th1 (linfócitos), além de aumentar a população e a função
de células NK, bem como o potencial de proliferação dos
linfócitos.
Experimentos
realizados por Nantz et al. (2011) avaliaram a influência da
suplementação com extrato envelhecido de alho (2,56 g/d) sobre a
proliferação de células do sistema imune e sua atuação contra os
sintomas de resfriados e gripes em 120 indivíduos saudáveis. O
estudo randomizado duplo-cego mostrou que o grupo de indivíduos que
recebeu o tratamento apresentou maior proliferação de células γδ-T
e NK do que os indivíduos do grupo placebo. Verificou-se também que
o grupo que consumiu o extrato apresentou redução na severidade
desses quadros clínicos.
Hassan
et al. (2003) observaram que, ao ser administrado um extrato contendo
20 mg/kg de alho fresco em camundongos, ocorre um aumento
significativo de células NK nesses animais, assim como a elevação
da capacidade de eliminação de células cancerígenas da linhagem
K562. Essa maior atividade citotóxica foi associada à presença de
glicoproteínas nesse composto fitoterápico.
Feng
et al. (2012) revelaram que a alicina, princípio ativo liberado pela
maceração do alho, quando administrada em camundongos Balb/c
pós-infectados
com Plasmodium
yoelii,
reduziu a parasitemia e prolongou a sobrevivência desses animais em
decorrência do aumento de mediadores pró-inflamatórios, como o
interferon gama (IFN-γ). Além disso, o tratamento com alicina
estimulou a proliferação de células T CD4+ e macrófagos. A
atividade antimicrobiana deste composto foi demonstrada por modulação
das citocinas ativadoras de macrófagos que controlavam a infecção
parasitária.
A pesquisa de Bhattacharyya et al. (2007) investigou o aumento da concentração de NO (óxido nítrico) e de IFN-alfa no plasma de voluntários saudáveis após eles ingerirem alho fresco. Posteriormente à ingestão de 2,0 g de alho fresco, os níveis de NO e de IFN-alfa plasmáticos foram determinados depois de duas e de quatro horas. Verificou-se que o nível basal de NO no plasma desses voluntários foi de 2,7 μm e de 8,76 μm após duas e quatro horas respectivamente. O nível de IFN-alfa basal no plasma aumentou de 9,51 nm para 46,3 nm nos mesmos tempos. Durante a ingestão assídua de alho, foram encontrados níveis elevados de IFN-alfa sérico durante pelo menos sete dias a partir de sua retirada da dieta.
É
válido ressaltar que, de acordo com Samson et al. (2012), foi
comprovado que o alho não apresenta potencial hepatotóxico no
organismo de ratos quando administradas doses de até 600 mg/kg por
dia durante um período de trinta dias.
Conclusão:
A
medicina popular usa o alho (Allium
sativum)
há centenas de anos de forma empírica no combate e prevenção
contra diversos males. A realização de estudos sistematizados
permitiu a confirmação de vários benefícios propiciados pela
utilização desse vegetal, sendo o seu consumo recomendado pela
ANVISA e pela OMS como um possível substituto de determinados
medicamentos sintéticos, uma vez que seu uso não causa efeitos
hepatotóxicos.
A
realização de novos estudos científicos possibilitará a ampliação
dos conhecimentos sobre os princípios ativos do alho, permitindo
melhor padronização no preparo e na determinação da dose a ser
ministrada, otimizando os efeitos curativos e protetores relacionados
ao organismo humano.
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